segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sobre as cotas raciais

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É muito interessante ouvir um argumento não cretino contrário às cotas raciais. Quem o faz (por enquanto o único que conheço) é o Rafael Galvão. Se mostra desconfortável de estar na mesma posição de gente como Demétrio Magnoli ou Ali Kamel. Critica o argumento a favor das cotas por se basear no exemplo norte-americano, diferente demais do caso brasileiro como bem demonstra o Rafael.

Gostei do texto do Rafael, mas continuo a favor das cotas. O grande problema a enfrentar é como definir um negro. Muito sutil, e presta-se a diversos tipos de problemas. Ao contrário do Rafael, que acredita que as cotas sociais (reserva de vagas a alunos oriundos de escola pública) sejam mais eficientes, acredito que deve existir um tipo de combinação entre cotas raciais e sociais. Vale lembrar que também existem cotas para indígenas nas universidades.

E defendo que as cotas não apenas são justas e eficientes, como é necessário ampliá-las. Um negro com diploma de curso superior continuará a ser preterido na disputa por um emprego. É preciso ter cotas para negros nos concursos públicos e nas candidaturas políticas (já existem cotas para candidaturas femininas).

Mas o mais importante mesmo, é a melhora radical na qualidade dos serviços públicos, que seriam a grande tacada pelo desenvolvimento social e humano. O problema é que os mesmo que negam a validade das cotas (caso do Magnoli e do Kamel, mas não do Rafael) - são os que defendem a redução do papel do Estado e que lutam para continuar aplicando o tipo de cota racial que sempre existiu no Brasil: cotas de 100% para brancos bem-nascidos.

Vale a pena ler também o Alex Castro criticando o livro de Ali Kamel sobre um Brasil não racista.

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3 comentários:

Rafael Galvão disse...

Vê só: no sistema utilizado pela Universidade Federal de Sergipe, 50% das vagas são reservadas a estudantes vindos de escolas públicas. Desses, 20% são reservadas a negros.

Eu não gosto muito da idéia das cotas raciais porque acho que cria um novo problema, ao mesmo tempo que oferece uma solução que seria oferecida .

Basicamente, acho que cotas raciais focam mais no problema -- racismo, jugo econômico, etc. -- do que na solução -- oferecer educação como instrumento de mobilidade social.

E além disso, acho que as cotas sociais podem forçar uma melhora da escola pública. :)

Rafael Galvão disse...

"... que seria oferecida também pelas cotas sociais". :)

Miha mania de pular parágrafos dá nisso.

André Egg disse...

Aqui na UFPR acho que é o mesmo percentual de cotas, e tem ainda uma sub-cota para indígenas, que não sei de quanto é.

Realmente a mais fácil de aplicar é a cota para estudantes de escola pública, não é polêmico definir quem pode ou não se encaixar na cota.

Mas não evita que, entre os pobres, os negros continuem sendo segregados. Aliás, favorece certas escolas públicas "de elite", acessíveis apenas a classes médias que vivem nos bairros onde estas escolas se situam.

Não tenho dúvidas que, a longo prazo, o remédio está na melhoria da escola pública. As cotas para negros são um paliativo imediato, necessariamente temporário.

O ideal seria que elas tivessem sido aplicadas na década de 1890, mas o Brasil daquela época não tinha nem escola pública nem universidade - que triste não?

(Maior orgulho você aparecendo na minha caixa de comentários)