segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Como Saramago vê o Deus dos judeus - a propósito da questão de Gaza

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Saramago é comunista. Presume-se que seja ateu, como todo bom comunista. Escreveu um livro interessante sobre o homem Jesus Cristo, que li uns pedaços (está na fila para ser lido inteiro). O livro me chama a atenção por pretender uma versão da vida Cristo sem os milagres da narrativa dos evangelhos e sem os dogmas do cristianismo posterior ao terceiro século (coisas como a divindade de Cristo, seu nascimento virginal, sua morte vicária e sua ressurreição).

Agora há pouco o escritor desabafou em seu blog contra as arbitrariedades que o Estado de Israel impinge aos refugiados palestinos em Gaza, que já estão sem comida enquanto os caminhões de mantimentos da ONU são impedidos de entrar.

"Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado."

Está aí o Deus feito à imagem e semelhança do homem. Boa parte do que nós cristãos chamamos de Antigo Testamento descreve peripécias (nem sempre historicamente verídicas) de um povo com seus reis e exércitos. Protegido de um Deus que lhes dá vitórias militares e manda que pratiquem genocídio contra os infiéis.

Obviamente não é só isso que faz o Deus do Antigo Testamento. Mas isso certamente lhe mancha a reputação. A ponto de grupos cristão recusarem-se a aceitar o Antigo Testamento como parte do cânon. Esses marcionitas (porque seguidores de Márciom) foram devidamente silenciados para a posteridade.

E continuamos a propagar a idéia de um Deus que é "Senhor dos exércitos", pelo qual matamos e morremos. Sejamos judeus, católicos romanos ou protestantes. De Israel, ou dos Estados Unidos.

Saramago simplifica muito a questão, posto que no Estado judeu a opressão sobre os palestinos não é de matriz religiosa - aliás, ortodoxos sempre tiveram pouco peso político em Israel, e os socialistas secularistas são a base da tradição política do jovem Estado.

Poderia o Saramago também comentar algo a respeito do Deus dos muçulmanos e informar que não há inocentes no conflito. Radicais violentos estão dos dois lados, sempre derrotando quem se dispõe a conversar. Sejam ateus bondosos, como o escritor português, ou religiosos que depositam sua fé num Deus que é amor e justiça e que criou os homens iguais para viverem em paz.

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