segunda-feira, 9 de junho de 2008

Música como disciplina curricular

Recebi esta notícia por e-mail:

Comissão da Câmara aprova por unanimidade Projeto de Lei pela volta da educação musical na educação básica.

O Projeto de Lei 2732/2008, com relatoria do Dep. Frank Aguiar, que determina a obrigatoriedade do ensino musical na educação básica, foi aprovado hoje, dia 28 de maio, ao meio-dia, por unanimidade pela Comissão da Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados. Para ter valor de lei, falta apenas a votação na Comissão de Constituição de Justiça, o que deve acontecer entre uma semana e 15 dias. A votação foi acompanhada pelo Grupo de Articulação Parlamentar Pró-Música (GAP), que é formado por 86 entidades, como universidades, associações e cooperativas de músicos. O Projeto de Lei é fruto de uma mobilização desse grupo.

O Projeto, originado no Senado sob o número 330/2006, é de autoria de Roseana Sarney (PMDB-MA) e relatoria de Marisa Serrano (PSDB-MT). Contou também com o apoio da Comissão de Educação, através dos senadores Roberto Saturnino, Sérgio Zambiasi, Romeu Tuma, Cristóvam Buarque, Juvêncio da Fonseca e Leonel Pavan. A aprovação no Senado também foi unânime.

O ensino de música nas escolas foi retirado do currículo na década de 1970. Com seu retorno, a idéia não é formar músicos profissionais, mas sim um reconhecimento dos benefícios que esse ensino pode trazer para o desenvolvimento e a sociabilidade das crianças.

(Grupo de Articulação Parlamentar Pró Música)

Confira o texto da Relatoria.


O projeto estava em discussão há tempos. Pelo que entendi não precisa passar pelo plenário da casa (se não isso demoraria anos para ser implantado) nem esperar sanção presidencial.

Somado à notícia da implantação da Filosofia e da Sociologia no Ensino Médio, podemos esperar uma geração muito melhor educada vindo por aí.

Só que a aprovação das leis não é o último passo. É apenas o primeiro. Agora é preciso formar professores, desenvolver material didático, um monte de questões práticas.

Por isso, acho que este movimento não vai para por aqui.

Filosofia e Sociologia no Ensino Médio

Fiquei sabendo da notícia pelo Idelber Avelar, que apoia fortemente a medida. Agora é lei - o Ensino Médio incluirá as disciplinas de Sociologia e Filosofia.

Este blog também é a favor.

O próprio Idelber dá lá os links de quem é contra a medida. Inclusive um certo colunista da Veja, que afinal é uma revista acima de qualquer suspeita de doutrinação ideológica. Parece que vai se repetir uma ladainha mentirosa já iniciada pelo chefe de jornalismo da Globo, conforme relata o mesmo Idelber, a respeito do caso de um livro didático de história.

O mesmo discurso falso está no texto Doutrinação barata, escrito por Nelson Ascher para a página E6 do caderno Ilustrada da Folha de hoje. Quando comecei a ler jornais, a Folha não seguia o mesmo caminho de Veja e Globo, mantinha-se um nível jornalístico acima. Faz tempo que já não é mais assim. Tá certo que o texto é uma opinião assinada - e não a opinião do jornal. O mesmo se poderia dizer do Reinaldo Azevedo, ou talvez das falas do Arnaldo Jabor. Alguém acredita que estes caras tem opinião própria? Eles são muito bem pagos para escrever editoriais assinados, livrando a cara dos editores.

Ao que me parece, o Nelson Ascher é médico. Entende muito de educação, filosofia ou sociologia, portanto. Usa uma história pessoal, mostrando como aprendeu a gostar de Dostoievski sem ter aulas de literatura estrangeira no Ensino Médio. E afirma que não se lembra mais do que memorizou dos conteúdos escolares oficiais. Conta que estudou "num dos melhores colégios de São Paulo", que "sabia maximizar nossa capacidade de memorizar", pois ele os colegas passaram em concorridos vestibulares.

Ele provavelmente não sabe, mas faz tempo que a escola não serve mais para "maximizar capcidade de memorização". Para isso temos computadores. Escola serve para preparar para a vida, para as relações humanas, para o aprendizado contínuo, para a construção do conhecimento. Se Sociologia e Filosofia não servirem para isso, não sei o que servirá. Ascher queixa-se de que esqueceu o aprendido em matérias "rigorosas e/ou factuais: trigonometria e geometria analítica, ótica e química orgânica". Estas matérias poderiam ser dispensadas do Ensino Médio e ficar para vestibulares vocacionais das áreas técnicas. Já um engenheiro ou um médico que sabe bem as tais "matérias factuais" pode ser um péssimo profissional (temos deles aos montes por aí) por não saber construir relações humanas, respeitar as diferenças, trabalhar de forma cooperada por um mundo melhor.

Afinal, a melhor doutrinação ideológica que se pode fazer com os estudantes é justamente a que já temos de sobra: sonegar-lhes formação cultural, para que continuem sendo escravos. A certos interesses não vai bem uma formação humanística mais ampla - afinal, pessoas que pensam dão mais trabalho. Não acreditam em tudo que lêem nos jornais ou vêem na televisão...